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A metástase do Pulmão

E naquele 16 de dezembro de 2011 eu recebi a pior notícia que poderia receber... O câncer realmente estava de volta, agora nos meus pulmões. Meu chão se abriu. Eu não reagi, as lágrimas simplesmente começaram a escorrer pelos meus olhos e a voz do Dr. Valdir foi ficando distante. Eu não conseguia acreditar. Eu tava bem! Eu tava na melhor fase da minha vida, eu tinha amigos incríveis, eu saía, eu me divertia, de uma maneira que eu nunca tinha feito antes, e eu não queria perder tudo aquilo de novo pro câncer... Eu não queria passar por tudo aquilo de novo, e o pior: enfrentar uma quimioterapia. A ideia de perder meus cabelos depois de perder minha bexiga era devastadora. Eu saí daquela sala em choque, em negação, eu não queria acreditar. Como estávamos muito perto das festas de fim de ano, o médico aceitou que eu passasse as festas em casa com a minha família, pra assimilar tudo que tava acontecendo, mas assim que passasse o primeiro do ano, eu já estava com a internação marcada para dia 3 para começar a fazer os exames e ver a extensão de tudo. Lembro que depois da consulta pedi pro pai me levar pra casa da Camilla, e eu fui do hospital até lá chorando, a mãe e o pai tentaram não chorar na minha frente, mas eu vi que eles choraram o caminho todo também. Eu não suportava ver eles chorando. Naquele mesmo dia o Armandinho (que todos sabem, é meu ídolo) estava desembarcando em Porto Alegre, e então eu e a Camilla pegamos todo o dinheiro que tínhamos e saímos pra chegar ao aeroporto a tempo de encontrar com ele. Não conseguimos. No aeroporto conhecemos duas outras meninas que eram fã, e uma delas ia pro show dele em Gravataí naquela noite, e perguntou se queríamos ir com ela, e é claro não pensamos duas vezes. Corremos pra casa da Camilla, pegamos nossas roupas e fomos pra casa da Fernanda. A gente não conhecia a Fernanda, nem a família dela, eu tava tão atordoada naquele dia que nem pensei no perigo que poderia ser ir pra casa de estranhos pra "sair a noite" sem nossos pais saberem de nada. Graças a Deus a Fe e a família dela eram uns amores. Fomos pra Gravataí, aquele show lavou a alma. Depois do show estávamos sentadas na calçada em frente a casa de show, quando uma van encostou e eu falei pras gurias brincando: ó a van do Armandinho. E não é que era?! Foi a primeira vez que consegui um abraço dele, foi rápido, mas naquele momento foi tudo que eu precisava. Voltamos pra casa da Fe e esperamos até amanhecer pra podermos voltar pra casa da Camilla. Aquelas duas semanas e meia até o dia da internação passaram tão rápido e ao mesmo tempo tão devagar. Os sentimentos eram muito confusos. O câncer estava de volta e eu não podia fazer nada pra mudar isso. Fizemos a virada do ano na casa da migs (eu e a Camilla nos chamávamos assim), passamos eu, ela, a Thamy, o Giu, o Flávio, o Natan, a tia, o tio e a Lauren. Foi uma virada especial! Dia 3 chegou e eu fui pro hospital começar a fazer os exames, fiz uma fibrobronquioscopia, fiz uma biópsia, e as expectativas para saber se eu faria quimio ou cirurgia. Naquele janeiro de 2012 eu fiquei bastante tempo internada. Certo dia a migs estava lá comigo e a mãe, e eu decidi que era a hora de contar pra ela sobre a bolsinha, em todos aqueles meses e com tanta convivência eu tinha conseguido esconder de todos eles a uro. Naquele dia lembro que senti um medo enorme de perder a amizade dela por causa disso. Já tinha afastado tanta gente que eu amava por causa dela, e não queria perder mais uma pessoa. Claro que esse medo todo era bobagem minha, quando contei pra ela nós choramos tanto juntas, e ela me falou tanta coisa, tirou todos os meus medos e inseguranças de perder as pessoas por causa disso. Naquele dia tive a certeza de que a nossa amizade não era uma amizade qualquer. Sou grata a ela até hoje, e ela sabe (mas ela vai ganhar um post especial pra ela). Em certa noite a Dada foi ficar comigo, e lembro que eram mais ou menos 22:30h da noite, nós estávamos jogando uno e conversando, rindo, quando a enfermeira chefe passou pra ver como eu estava. Estava bem, estava sentada jogando com a Dada, a enfermeira ficou feliz de me ver mais animada, e seguiu as visitas dela. 5 minutos depois senti como se tivesse dado um mau jeito nas costelas, pouco abaixo do peito, do lado. Só que aquela dorzinha foi apertando, e eu não sabia explicar o que era. A Dada resolveu chamar a enfermeira pra falar o que estava acontecendo, ela veio, mas não levou fé no que eu disse. Chegou a dizer que era besteira minha, que no minimo eu e a Dada tínhamos brigado e eu estava querendo chamar atenção (sim, tive que ouvir isso). Minha irmã ficou furiosa, e falou que nós não tínhamos brigado, e mesmo que tivesse eu nunca faria isso de fingir alguma coisa, mas a enfermeira não queria saber, só ignorou. Eu comecei a sentir uma vontade insuportável de ver meu irmão mais velho, naquele momento eu senti que precisava me despedir dele. Ligamos pra mãe, em 20min ela e o pai chegaram no hospital e subiram, e eu só perguntava onde estava o meu irmão e porque ele não tinha chegado ainda, que eu não estava mais aguentando. Foi quando minha irmã depois de a enfermeira ter gritado com ela dizendo que ela não enxergava que eu tava querendo chamar atenção pra fazer meus pais se deslocarem aquela hora de casa. Minha irmã já estava desesperada, a mãe havia descido pra liberar a subida do meu irmão pra me ver, mas a última imagem que tenho é da Dada dizendo pro pai: "Não deixa ela fechar os olhos, não deixa ela dormir, ela não pode dormir" e saiu pra trazer a enfermeira, ou ela ia me examinar por bem, ou ia por mal... Ela foi, e quando ela entrou no quarto e ascendeu a luz eu já estava ficando roxa e meu coração tinha parado. Tive uma parada cardio-respiratória, e a enfermeira achando que eu só queria atenção...

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