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A metástase da coluna

Depois de uma semana sem dormir, me encaminharam pro neuro. A neurologia do Grupo Hospitalar Conceição, é no Hospital Cristo Redentor, e a única maneira de eu conseguir uma consulta era indo pra emergência. Eu fui, lembro que passamos uma madrugada longa e fria na emergência do Cristo, eu e a mãe. O médico fez tomo, fez ressonância, e falou pra gente que tinha uma metástase na minha coluna. Esse era o motivo da minha dor na perna, tinha um tumor na L4 comprimindo o nervo. Ela tava crescendo muito rápido, e que eu teria que fazer cirurgia na coluna pra retirar o tumor. Falaram que iam conseguir um leito e preparar tudo pra cirurgia e me ligavam, fui pra casa. Nesses 10 dias que eu fiquei em casa já não consegui mais andar normal, meu pai alugou muletas e eu não conseguia andar mais sem elas. O Cristo me ligou pra eu internar. Fui, internei, eles começaram a fazer os exames pré-operatórios, e a dor já tava insuportável. Eu não dormia mais se não tivesse uma dose cavalar de rivotril. Com esses exames os médicos viram que o tumor que era do tamanho de uma bola de golf 15 dias atrás, tava do tamanho de uma laranja, comprimindo o nervo que desce pra perna esquerda. Daí eles começaram a repensar a cirurgia. Um dia eu fui levantar pra ir no banheiro e queriam pegar uma cadeira de rodas, eu fiquei brava disse que não precisava, que eu conseguia ir de muleta, eu estava andando de muleta a 20 dias... Quando eu saí da cama, que coloquei o peso nas pernas eu desabei. Minha perna esquerda não respondia mais. Foi a pior sensação da minha vida. Eu desabei não só pelo tombo, mas por ter a certeza de algo que não queria acreditar, que eu estava perdendo o movimento da minha perna. 
Naquela época meu único refúgio era um caderno, onde eu escrevia tudo, eu carregava aquele caderno por onde fosse, era minha terapia colocar tudo no papel. Tenho eles até hoje guardado. Um dos médicos que cuidou de mim na neuro, o Dr. Carlos uma vez chamou a mãe no corredor e perguntou o que tanto eu escrevia naqueles cadernos, a mãe não sabia, nunca ninguém tentou pegar eles, mas no fundo eles sabiam o que era. (Viu Dr. Carlos, agora o senhor sabe, era basicamente um diário, tem muita história lá kkk)
Depois daquela queda eles viram que realmente o tumor tava evoluindo muito rápido, mas eles tinham muito medo de fazer a cirurgia, porque a chance de eu não andar nunca mais fazendo a cirurgia era quase certa, então eles exitaram. Depois de muito discutir eles decidiram fazer a quimioterapia. Foi mais um baque pra mim. Eu já estava tendo que lidar com o fato de perder o movimento da minha perna, e agora tinha que lidar com o fato de perder o meu cabelo. Vocês podem pensar o que é o cabelo, o cabelo cresce... Sim, o cabelo cresce, hoje também tenho esse pensamento, mas na época tinha 17 anos, já tinha minha auto estima ferida pela urostomia, estava numa cadeira de rodas e ia perder o meu cabelo que eu amava, foi muito difícil. Me levaram pro Conceição pra fazer a quimio. Fiz uma sessão, dia 18 de junho de 2012. Foi horrível. Eu nunca senti tanta dor. Eu tenho flashes de memória do dia que estava fazendo a quimio, porque me deram tanto remédio pra dor que eu não lembro de muita coisa, mas a mãe conta que eu gritava pra eles pelo amor de Deus tirar aquele remédio porque tava fazendo doer muito. Morfina era água. Dolantina, suquinho... Me deram Metadona. Pesquisem o que é Metadona e pra que é usado. Depois daquela sessão de quimio horrorosa, refizeram meus exames e viram que a quimioterapia teve efeito reverso, ao invés de diminuir o tumor, ela inflou. Por isso eu gritava de dor. Nesse ponto a gente tinha chegado num beco sem saída. Eles não sabiam mais o que fazer. Me mandaram pra casa... Ficou claro que eles regularam minha medicação pra mim ficar sem dor e me mandaram pra casa... Pra minha família aproveitar o tempo comigo. O médico disse que em no máximo 10 dias meu cabelo teria caído todo. 5 dias depois em casa, meu cabelo começou a cair, então minha irmã veio em casa, me pegou e me levou em uma senhora lá na Assis Brasil, que fazia perucas. A senhora olhou meu cabelo, perguntou se era daquele jeito que eu gostava de usar ele, e disse que ela ia fazer uma peruca e ele ia ficar idêntico como estava. Pra isso ela teve que cortar meu cabelo... Vocês lembram daquela cena da Carolina Dieckman em Laços de familia? Foi exatamente igual. A dor que eu senti quando aquela senhora pegou a minha franja e deu a primeira tesourada, lá na raiz... Eu choro até hoje quando lembro! Foi cruel assistir ela cortando mecha por mecha do meu cabelo. Eu saí de lá com o cabelo bem baixinho, e alguns dias depois aquelas mechinhas começaram a cair em tufinhos, eu "puxava" e ele soltava as mechinhas inteiras, até não ter mais nada! 
Esse período foi muito dificil, eu não deixei ninguém me ver até a peruca ficar pronta. Só quem me viu foi minha familia. Foram días de muita dor, tanto física, como psicológica...

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